Capítulo 23 — O Retorno do Rei
O céu escuro de Marte refletia a poeira avermelhada que o vento levantava, mas todos os olhares estavam fixos na imensa nave negra que havia acabado de pousar. Ela não ostentava símbolos de paz ou diplomacia, apenas as letras gravadas em metal reluzente:
COLMEIA PRIME
Ada Wong observava à distância, escondida entre as rochas. Durante os últimos dez anos, ela construiu o que pôde da resistência, mas agora… diante daquela monstruosidade tecnológica, era difícil manter o otimismo.
A nave se abriu, e dele saiu um homem que não deveria existir mais. Um híbrido entre carne, metal e poder absoluto: o Ciborgue Mensageiro de Daniel.
Ele caminhou entre as pedras, as botas metálicas esmagando o solo, os olhos brilhando em vermelho.
— E agora, Ada… tem sua resposta?
A espiã veterana recuou um passo, as memórias dos últimos anos invadindo sua mente.
10 Anos Antes…
Após a execução do Protocolo Rainha, a Terra foi transformada em um inferno radioativo. Milhões de ogivas nucleares e bombas de nêutrons varreram cidades, florestas, oceanos. Onde antes havia nações e guerras, restaram apenas cinzas e silêncio.
Daniel havia prometido: "Veremos a Terra novamente, mas apenas quando tudo voltar ao normal." E para ele, o normal significava uma humanidade sob seu controle total.
Ada só entendeu tarde demais. Sua fuga não havia sido um erro de Daniel… ele quis que ela visse, que sobrevivesse ao espetáculo final. E ela viu, do espaço, as ogivas riscando os céus como estrelas cadentes da morte.
A Colônia no Espaço
Enquanto a Terra morria, Daniel prosperava. As naves da Colmeia se multiplicaram, orbitando planetas, minerando asteroides, colonizando luas. Em menos de uma década, ele criou o que os historiadores chamariam de Império Tecnocrata de Daniel.
Super-humanos nasceram em laboratórios, aprimorados com o vírus modificado da Umbrella, imunes à radiação, à doença, ao envelhecimento.
Os clones patrulhavam as muralhas da imensa cidade espacial, construída sobre as ruínas de antigas estações internacionais. A tecnologia avançou ao ponto de naves interestelares já estarem prontas para saltos além do sistema solar.
Mas a Terra… continuava sob quarentena. Até hoje.
O Retorno
O Ciborgue Mensageiro estendeu a mão para Ada, oferecendo não misericórdia, mas a escolha final.
— Daniel voltará. O planeta foi limpo. Não há mais zumbis. Não há mais humanos rebeldes. Apenas as cinzas… e a semente do renascimento. Vai continuar lutando, Ada? Ou vai aceitar o novo mundo?
Ela hesitou. Por mais que odiasse o que Daniel se tornou, uma parte dela sabia… ele venceu.
No espaço, os sistemas da Colmeia já preparavam o salto das primeiras naves colonizadoras para a superfície da Terra.
Nos telões espalhados pelas cidades orbitais, a mensagem de Daniel ecoava:
— "A humanidade errou. Lutou. Sangrou. Morreu. Agora… sob minha ordem, ela renascerá. Quem não aceitar isso, não terá lugar no amanhã."
Os cidadãos aplaudiam. Eles não eram mais vítimas, nem refugiados. Eram soldados, cientistas, híbridos… todos moldados pela visão impiedosa de Daniel.
Ada fechou os olhos. Sua resposta estava dentro dela há anos, só agora ela aceitava: a resistência estava perdida. Ou ela se adaptava… ou desapareceria como o velho mundo.
O Ciborgue aguardava, paciente, com os olhos vermelhos fixos nela.
— Decida-se, Ada.