Kazehara Renjiro
O som do meu nome ecoou pela arena como o estalo de um trovão. "Kazehara Renjiro contra Drustan Hester!" A multidão rugiu em êxtase, mas, para mim, o mundo ao redor mergulhou num silêncio profundo e ensurdecedor. Tudo que eu ouvia era o compasso acelerado do meu próprio coração, cada batida como o som de um tambor de guerra dentro do peito.
Inspirei fundo, enchendo os pulmões com o ar vibrante da arena, e comecei a caminhar. Meus pés tocavam o chão como se flutuassem leves, focados. Naquele instante, não havia plateia, não havia adversário. Só havia o caminho até o centro do campo de batalha.
Drustan já estava lá. Imóvel. Braços cruzados, olhos fixos em mim como os de uma besta à espreita. Seu corpo parecia esculpido em pedra, cada músculo tenso como um arco prestes a disparar. A aura de força que o envolvia era quase palpável, uma muralha de poder bruto. Ele era como a terra firme, inabalável, implacável. Mas eu era o vento fluido, indomável, veloz.
O sinal soou. Um simples toque metálico, mas que explodiu como um raio em minha mente.
Drustan avançou como uma avalanche. Seus pés martelaram o chão e, no instante seguinte, sua espada desceu com a fúria de um meteoro. Rolei para o lado. Um segundo mais lento e aquele golpe teria partido meu crânio. O chão rachou onde antes eu estivera. Poeira subiu, gritos ecoaram da arquibancada. Mas eu já estava de pé.
"Rápido," ele disse com um meio sorriso, erguendo a espada com uma mão só. "Vamos ver se consegue continuar assim."
Não desperdicei palavras. Movi-me. Esquerda, direita, diagonal cada passo meu era como uma pincelada de vento em uma tela de caos. Desviei, girei, deslizei. Minha espada cortava o ar, não para ferir, mas para medir. Estava traçando o ritmo da luta, moldando a tempestade.
Tentei um golpe na lateral do flanco. Rápido como uma faísca. Ele bloqueou, mas houve uma hesitação sutil, uma fração de segundo que me contou mais do que mil palavras. Ele estava começando a se adaptar. Isso era perigoso.
Decidi ousar. Corri até uma das colunas laterais da arena, impulsionei-me com as pernas, escalei como uma rajada e me projetei do alto, girando. Minha lâmina desceu como um raio. Drustan a interceptou, e o choque soltou uma chuva de faíscas entre nós. Fui lançado de volta pelo impacto, mas aterrissei com firmeza, deslizando para longe dele com o impulso.
"Boa tentativa," disse ele, ofegante. "Mas ainda falta força."
"Talvez," respondi, limpando o suor da testa com as costas da mão. "Mas eu não preciso derrubá-lo com um único golpe."
Aumentei a pressão. Ataques curtos, precisos, rápidos como o vento cortante das montanhas. Vinha de ângulos imprevisíveis, surgindo, desaparecendo. Drustan reagia como podia, mas seu estilo era diferente do meu. Ele era o peso, eu era a velocidade. Ele era o impacto, eu era a fluidez.
Então ele rugiu. Literalmente. Uma onda de energia mágica explodiu de seu corpo e correu pelo chão, rachando o solo em minha direção. Saltei no último instante, girando no ar como uma folha carregada por um vendaval. Caí atrás dele e desferi dois golpes antes que ele pudesse se virar. Nada profundo, mas suficientes para marcar território.
Drustan avançou de novo, dessa vez tentando encurtar a distância. Era isso que ele queria: me prender, me esmagar com sua força. Seus golpes vinham pesados, como martelos ancestrais. Um único acerto poderia acabar com tudo. Mas eu não era feito para ser alcançado.
Foi quando ele surpreendeu: cravou a espada no chão e murmurou um encantamento. Rochas começaram a se erguer ao redor de seu corpo pedras grandes, girando como um escudo místico, formando uma barreira giratória ao seu redor. Ele estava se fortificando. Mudando o jogo.
Eu precisava mudar também.
Invoquei minha magia do vento. Não para atacar diretamente, mas para aumentar minha velocidade, meu impulso. Criei correntes ao meu redor, me propulsionando com estalos de ar que me lançavam como uma flecha viva. Passei a girar pela arena, atacando de todos os lados, testando a rotação das pedras, buscando rachaduras.
Cada golpe meu batia e recuava, mas cada impacto enfraquecia a barreira. Fragmentos de pedra começavam a cair. Minha espada dançava, minha respiração era um mantra. A multidão gritava meu nome, mas eu mal ouvia. Estava mergulhado no movimento. Era como se o tempo tivesse desacelerado.
E então a brecha.
Em um giro veloz, abaixei-me e deslizei por baixo da última pedra giratória, subindo com um corte diagonal que atingiu o antebraço de Drustan. Ele grunhiu alto. A espada escapou de seus dedos e caiu, cravando-se no chão a metros dali.
A plateia explodiu.
Mas ele não caiu. Ele ainda vinha em minha direção. Desarmado, sangrando, mas irredutível. Uma muralha viva.
Tentou me agarrar. Girei o corpo e passei por baixo de seu braço, escorregando como fumaça. Rolei para trás dele e apliquei um chute certeiro em sua lombar. Ele cambaleou. Não hesitei: ataquei com precisão no tendão da perna. Ele caiu de joelhos.
A arena silenciou.
Ele ergueu os olhos para mim. Respirava com dificuldade, o sangue escorria de seu braço, mas seu olhar era firme. Por um instante, pensei que ele tentaria mais uma vez.
Mas ele apenas... sorriu.
"Você venceu, Kazehara," disse, a voz rouca. "Você não é um lutador comum."
"Nem você," respondi, estendendo a mão.
Ele a segurou. Havia respeito naquele gesto. Honra. Guerreiros que haviam cruzado espadas e reconhecido um ao outro no campo da verdade.
O mestre de cerimônias surgiu.
"A vitória vai para Kazehara!"
O rugido que se seguiu fez tremer a arena. Não era apenas por vencer. Era por ter resistido, por ter dançado à beira do abismo e saído mais forte.
Enquanto deixava a arena, senti a adrenalina ceder. Meu corpo doía, minha alma estava em brasa. Mas havia uma certeza dentro de mim.
Os desafios estavam apenas começando.
E eu estava pronto para todos eles.