Cherreads

Chapter 22 - O Primeiro Embate

Leonard Everhart

O som das arquibancadas era ensurdecedor, mas, estranhamente, tudo em mim estava quieto. O mundo parecia distante, como se a realidade ao meu redor tivesse sido abafada por uma névoa de expectativa.

Os estandartes balançavam com o vento e o sol lançava sua luz dourada sobre a arena, como se estivesse abençoando o campo antes do sangue ser derramado.

A areia clara do campo refletia a luz com intensidade, e o calor começava a se acumular sob minhas botas. O cheiro da poeira quente, misturado ao perfume de flores lançadas pela plateia nas arquibancadas, me envolvia.

Cada detalhe daquela atmosfera parecia sagrado, como se eu estivesse prestes a atravessar um portal, um rito de passagem.

O mestre de cerimônias subiu ao palco central. Suas vestes escuras tremulavam com a brisa. Quando ele ergueu os braços, um silêncio quase reverente tomou conta das arquibancadas.

"Senhoras e senhores… bem-vindos ao Desafio dos Campeões!"

Uma onda de aplausos varreu o público. Quando meu nome foi chamado, senti o coração dar um pulo.

"Leonard Everhart contra Briana Werdum."

Engoli em seco. Não era medo. Era mais profundo. Algo que nascia entre o peso do meu nome e a espada às minhas costas.

A espada branca com detalhes dourados… presente de meu pai.

A lâmina reluzia mesmo embainhada. Ao tocá-la, senti um calor familiar percorrer minha espinha. Era mais do que uma arma, era um legado. Meu reflexo no metal polido me encarou por um instante, e eu soube: não podia decepcionar.

Briana já me esperava no centro da arena. Sua postura era impecável. Ombros alinhados, queixo erguido, olhos fixos nos meus. Seu corpo inclinado para a frente, os punhos envoltos em faíscas. Cada fio de cabelo preso em seu rabo de cavalo tremulava com a eletricidade. Ela parecia o próprio trovão esperando para cair do céu.

Meus pés tocaram o chão com firmeza. Respirei fundo. Não havia espaço para hesitação.

O sinal ecoou.

Ela veio como um raio. Um borrão de velocidade e fúria elétrica. Seu punho colidiu contra a terra ao meu lado e explodiu em uma faísca. A areia foi lançada para cima como uma cortina. Rolei para o lado, desembainhando a espada em um só movimento. A lâmina branca refletiu o brilho dos raios ao redor. Por um segundo, parecia que o tempo havia parado.

Concentrei o vento sob meus pés e me impulsionei para trás, ganhando distância. Ela sorriu. Um sorriso de quem estava se divertindo.

"Quero ver do que você é feito, Everhart."

"Vai se arrepender disso", murmurei.

Avancei. O primeiro golpe foi bloqueado por um campo elétrico que se instalou entre nós. A lâmina ricocheteou com um som metálico. Recuamos. A multidão prendeu a respiração. Canalizei mana no braço direito e conjurei terra para me ancorar no solo. O chão se ergueu ao meu redor, criando pilares irregulares. As faíscas de Briana ricocheteavam neles, iluminando seus contornos com flashes azulados.

Ela saltou e lançou uma rajada elétrica. Girei no ar e invoquei água, formando um véu fluido à frente da espada, que redirecionou o raio para o lado. O impacto criou uma explosão de vapor que ocultou nossa visão por segundos. Aproveitei o momento e disparei um arco de fogo pela lâmina. Ela o quebrou com o punho.

Ela era uma muralha viva de relâmpagos.

Nossos ataques se cruzaram dezenas de vezes. Espada contra punhos, vento contra trovão, água contra fogo. Estávamos dançando à beira do caos, dois corpos movidos por orgulho e desejo de vitória. Cada golpe reverberava pelo campo como um trovão. O chão já estava marcado por crateras, fuligem e sulcos profundos.

Mas algo mudou quando senti o calor da lâmina vibrar em minha mão.

A espada reagia aos elementos.

Minha magia fluía por ela com uma naturalidade assombrosa. Vento para me mover, terra para proteger, água para redirecionar, fogo para atacar. Eu era um com a lâmina. Era como se meu pai estivesse ali… guiando minha mão. As runas entalhadas no metal brilharam em um dourado suave, pulsando como um segundo coração.

Mas Briana também era teimosa. Ela reuniu mana nos braços e lançou um ataque direto.

Um relâmpago caiu do céu.

O estrondo cortou o ar, e a luz foi tão intensa que por um segundo tudo ao meu redor desapareceu. Fiquei cego, surdo. Só sentia o calor da magia crescendo, selvagem, viva, vindo em minha direção como uma fera faminta.

Eu não podia recuar.

Não depois de ter chegado até ali. Não com meu nome ecoando naquela arena. Não com aquela espada nas mãos.

"Levante-se", sussurrei para mim mesmo.

Mas parecia que não era a minha voz… Era a do meu pai.

O calor da lâmina branca se intensificou. A energia pulsava sob meus dedos, como um coração batendo dentro do metal. E então eu compreendi. Ela não era feita só para cortar carne. Era feita para cortar o impossível.

Ergui a espada com as duas mãos. Minha mana rugiu dentro de mim. Terra para me manter de pé, água para canalizar o fluxo, fogo para liberar a fúria, vento para guiar o corte. Os quatro elementos se fundiram ao redor do aço.

"Agora…"

O raio caiu.

Mas eu já estava no ar.

O mundo desacelerou. Tudo ao meu redor virou silêncio e luz. Vi o feixe se aproximando de um rugido de energia que devorava o céu. E eu o atravessei.

Minha lâmina cortou a linha da destruição em um único arco perfeito.

Houve um clarão. E depois… silêncio.

A energia se desfez ao meu redor como vidro estilhaçado. Fragmentos de eletricidade flutuavam no ar, dissolvendo-se no vento. Meu corpo foi arremessado para trás pelo impacto, mas aterrissei com os joelhos firmes no chão. Respirava com dificuldade. As mãos ainda tremiam.

Do outro lado, vi Briana.

Ela ainda estava de pé. Atônita.

Suas mãos caíram ao lado do corpo. Seus olhos diziam tudo.

Ela sabia que havia perdido.

Tentei me erguer. A dor vinha em ondas, mas o corpo ainda respondia. A multidão estava paralisada e então explodiu em gritos e aplausos. A vibração nos assentos, os gritos histéricos, o som do meu nome ecoando em centenas de vozes. Tudo aquilo me atingiu como um sonho distante.

Caminhei até ela.

Ela hesitou por um segundo, depois estendeu a mão.

"Você lutou como um verdadeiro campeão."

"E você me obrigou a ser um."

Nos afastamos em silêncio, enquanto os aplausos continuavam. Olhei para a espada em minha mão… E pela primeira vez, senti que a havia honrado.

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